domingo, 28 de março de 2010

28/03: Números da Viagem:

Dias: 48 dias

Km total: 14.264 km
Km em asfalto: 12.599 km
Km em rípio: 1.665 km
Litros de Gasolina: 1.383,9 litros
Consumo Médio: 10,32 km/litro
Abastecimento: 38 vezes

Latitude Mínima: S 23º32’24 (Minha casa – São Paulo)
Latitude Máxima: S 54º52’44 (Estância Harberton – Terra do Fogo)

Altitude Mínima: 6 m (Bahía de Ushuaia – Terra do Fogo)
Altitude Máxima: 1.167 m (Serra entre Bariloche e Neuquén)

Temperatura Mínima: 2ºC (El Chaltén) - não considera sensação térmica

sábado, 27 de março de 2010

27/03/10 - Sáb: 1.342 km - Rio Grande > São Paulo

Acordo às 6h e saio do hotel antes de servirem o café da manhã. Passo num caixa eletrônico e às 6:35h já estou na fila da balsa que atravessa de Rio Grande para São José do Norte, comendo um pão caseiro que trouxe de La Plata e tomando um suco que passou a noite no frigobar do quarto justamente pensando neste momento.

Segundo o recepcionista do hotel, hoje é sábado e há somente três balsas: 7h, 13h e 18h. Não posso perder a das 7h de jeito nenhum, por isso chego bem cedo na fila que já estava grande. Foi a sorte pois o meu carro foi um dos últimos a embarcar. A balsa está tão apertada que nem consigo sair do carro. Melhor, deitei e no banco e dei uma descansada.

Às 7:45h já estou na estrada do outro lado da Lagoa dos Patos para percorrer a estreita faixa de terra que fica entre a Lagoa e o Atlântico (não encontrei o nome desta “península”) por onde passa a BR 101, seguindo 318 km até Osório. Desta vez eu não pego a Estrada do Mar e continuo na 101 sentido Floripa. A estrada está em obras de duplicação e alterna trechos muito bons com muito ruins, mas de uma forma geral vou bem.

Passando este longo trecho em obras a coisa fica fácil e nem sinto a viagem que segue tranquila passando por Joinville, e subindo quase 1000 metros de serra do mar até o rodoanel de Curitiba.

São 18:30h, faltam apenas 404 km pra chegar em casa e me sinto muito bem. Quer saber? Vou tocar direto pra casa! Paro num posto mais adiante, encho o tanque, como um lanche e tomo um café.

Vou sem pressa curtindo um Luiz Gonzaga, feliz por estar completando a viagem, um sonho quase realizado, falta pouco! Que sensação boa. É bom viajar, mas também é muito bom voltar pra casa. Tenho saudades da família, da Marina, dos amigos e do meu quarto. Estou tão bem que nem sinto os últimos km da viagem. Além de tudo, chegar em São Paulo num sábado à noite é um privilégio, não pego nenhum trânsito.

Chego na casa de Marina sem avisar e faço uma surpresa! Sábado, 27 de março de 2010, às 23:55h. Missão cumprida, sonho realizado! Foram 48 dias de estrada.

É amigos, vou parar de encher a caixa de e-mails de vocês. Agradeço a todos pelos e-mails, frases de incentivo e orações.

Sei que é uma frase velha, conhecida por muitos, chega a ser até piegas. Mas gostaria de finalizar o meu diário com as sábias palavras do Amyr Klink, escritas em seu livro Mar Sem Fim.

“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver AMYR KLINK.


Valeu demais!!!

PC

sexta-feira, 26 de março de 2010

26/03/10 - Sex: 805 km - La Plata > Rio Grande

PC_Buque

Esta é a famosa La Boca

Raios de Sol

Tchau Argentina

Chegar em Buenos Aires pela manhã é bem complicado, lembra muito a chegada da Dutra em São Paulo às 7:30h da manhã. Além disso demoro a encontrar a entrada para autos do Buquebus. Resultado: perdi o Buque Rápido que sai às 8:30h e leva 1 hora e meia para atravessar o Rio da Prata. Tenho que embarcar no Buque das 9:30h e que demora 3 horas para atravessar o mesmo trecho do rio até Colônia del Sacramento, no Uruguai. Paciência.

Ao chegar no Uruguai há uma barreira fito sanitária completamente desorganizada. A fila é uma bagunça, nem pode ser chamada assim, e ao manobrar o carro um agente da barreira acha que eu estou tentando passar sem ser revistado. Nem preciso dizer que reviraram o meu carro de cabeça pra baixo e confiscaram meus lanches de presunto e queijo.

Entro na estrada e após 20 minutos sou parado por ultrapassar um caminhão que ia a 10 km/h, na faixa contínua. Tudo bem, eu sei que estou errado, mas que começo de dia! Ele manda eu pagar a multa num posto da polícia lá na frente, depois de Montevidéu, mas isso nunca aconteceu de fato pois não encontrei o tal posto. ;)))

Depois disso, tudo certo. Sem problemas para atravessar a fronteira em Chuí, nada de filas nem encheção de saco. Um simpático agente da PF dá uma olhada no carro, abre alguns presentes que eu comprei mas como não levo eletrônicos me libera em seguida.

Ao subir em latitude a noite chega cada dia mais cedo. A primeira cidade descente do RS é Rio Grande, 250 km depois de Chuí, mas tudo bem pois a estrada está muito bem sinalizada. Chego aqui 21:30h.

Como é bom voltar ao Brasil, falar português e ser bem atendido nos postos de gasolina. Amanhã sigo para Curitiba.

Até,
PC

quinta-feira, 25 de março de 2010

25/03/10 - Qui: 530 km - Três Arroyos > La Plata – 489 km (+ 41 km para comprar um vinho!)

Tres Arroyos

Amigos Platenses

Cioran

PC - Nati - Alejandro

Señor Marcos - Nati - PC - Alejandro

A província de Buenos Aires é mesmo uma grande planície verde. E tome pasto! A paisagem de hoje se resume em pasto, vacas e algumas plantações. Faço os 489 km numa tacada só e chego em La Plata para o almoço. Tráfego intenso de caminhões o tempo todo, nem lembrava mais como era isso. Por outro lado ficar negociando ultrapassagens faz o tempo passar mais rápido.

Em La Plata resolvo algumas coisas, compro pesos uruguaios para os pedágios (agora estou esperto), faço umas compras no Carrefour e rodo 41 km até a cidade de Berisso atrás de um vinho branco que eu tomei com a Marina em Puerto Madryn. Mas valeu a pena pois o vinho é muito bom e custou R$ 7 a garrafa!

À noite o especialista em carnes, Señor Marcos, que já havia preparado uma parrillada na ida, desta vez elaborou um Lomo a la Uruguaia: com presunto, pimentão e queijo. Nham, nham, nham, umas das melhores carnes que eu comi em toda a viagem!

Antes de deitar tiro uma foto do “peixe dinossauro” chamado Cioran, que o Alejandro cuida com tanto carinho. Vejam a foto da coisa.

Amanhã atravesso o Rio da Prata e todo o território Uruguaio para finalmente fazer a última aduana e entrar de volta para o Brasil-sil-sil!

Abs,
PC

quarta-feira, 24 de março de 2010

24/03/10 - Qua: 728 km - Neuquén > Três Arroyos

Flores

Só Estrada e Pasto

Pai, feliz aniversário!

Hoje eu me desloco 728 km para o leste cortando quase que todo o território argentino, sem subir quase nada em latitude. Ao chegar no cruzamento das Ruta 22 com a Ruta 3, volto a dirigir pelo mesmo caminho da ida. Poderia mudar e fazer algo diferente mas o objetivo agora é voltar pra casa, então prefiro usar a rota que eu já conheço e sei que está em boas condições.

Dia quente e sem vento. A paisagem desértica que predominou até Neuquén (exceto em Bolsón e Bariloche) volta a ser composta basicamente por pasto, planícies verdes com pequenas flores amarelas e alguns eucaliptos. A falta de vento ajuda muito na direção, por outro lado o pára brisa retoma sua função de assassinar insetos desavisados, exigindo uma boa lavagem a cada pit stop. Volto a usar bermudas após 35 dias consecutivos de calças compridas.

Saludos,
PC

terça-feira, 23 de março de 2010

23/03/10 - Ter: 567 km (finalmente um dia sem pegar rípio!) - El Bolsón > Neuquén

Vento
Água_Finalmente

Barco a remo

El Bolsón

Estrada Bariloche Neuquen

Estrada Bolson Bariloche

Fiz Merda

Lago Nahuel Huapi

Montanhas, Deserto, Árvores & Rio

Oásis_1

Oásis_2

PC_Bariloche ao fundo

Represa

O trecho de Bolsón a Bariloche é bem montanhoso e as curvas predominam, mas a paisagem compensa com muitas árvores, vales, montanhas e lagos. Vejam as fotos!

Passando Bariloche a estrada contorna o Lago Nahuel Huapi. O vento aqui está muito forte e as ondas quebram violentamente na praia de pedras. Falando em perdas, acabo de fazer uma pequena bobagem. No ímpeto de me aproximar deste cenário tão diferente acabei chegando perto demais do lago e o caminho de pedras que era firme, se tornou mole. Estou atolado com as duas rodas da frente de um jeito que as pedras encostam na roda e no protetor de cárter. Vou pra pista e fico a procura de caminhotes 4x4. Tenho sorte, menos de 10 minutos e consigo parar um jovem numa Toyota Hi-Lux das antigas, mas com um pequeno detalhe na tampa traseira: 4WD. Ainda bem que tenho um cabo de reboque na caixa de ferramentas. Demora um pouquinho mas conseguimos desfazer a meleca que eu fiz. Nem acredito, podia perder um dia inteiro com essa burrada e no fim não perdi nem uma hora. O carro sai espalhando pedras pela pista inteira. Tenho que parar e com uma pequena ferramenta tirar quase um quilo de pedras que estavam por dentro do pára choques.

A paisagem continua deslumbrante, acho que uma das mais belas de toda a viagem, depois da chegada em Ushuaia. Ao me afastar de Bariloche a estrada acompanha um majestoso rio azul que lá na frente vira uma represa. Aqui o cenário é uma mistura de montanhas com deserto e uma faixa de oásis que vai acompanhando as margens do rio. Nesta faixa crescem árvores altas que destoam do deserto logo ao lado. Lindo!

Os últimos 250 km até Neuquén nenhuma novidade, é só pra cumprir tabela mesmo, e aquele deserto de sempre volta à paisagem uma vez que me afasto das montanhas.
Neuquén é uma cidade grande e caótica, trânsito pesado, filas pra abastecer etc., não vou ter saudades daqui.

PC

segunda-feira, 22 de março de 2010

22/03/10 - Seg: 678 km (106 km de rípio) - Perito Moreno > El Bolsón

Rotina

Chegando em Bolsón

Ripio Terrível - 1

Ripio Terrível - 2

Ripio Terrível - 3

Saindo de Perito Moreno vou em direção a Rio Mayo. Esqueça tudo o que eu disse sobre rípio ruim até agora. Esse sim são os piores 87 km da viagem. É de tirar qualquer um do sério. Pedras, pedras e mais pedras. Em muitos trechos não dá pra passar dos 20 km/h. Levo mais de 2,5 horas para andar míseros 87 km.

De Rio Mayo até o próximo entroncamento a estrada é muito boa e o vento sopra a favor. Que diferença! Qualquer pisada no acelerador já bato nos 140 km/h, até tenho que tirar o pé às vezes. Mas como tudo o que é bom dura pouco, ao entrar na Ruta 20 o asfalto piora e o vento também, mas um tapete comparado ao início do dia. Vou fazendo média de 110 km/h até Esquel.

Apesar dos trechos difíceis é muito gostoso dirigir por estes lados da Ruta 40. A paisagem é muito mais bonita e variada, e quase não há movimento. Às vezes passo mais de 1 hora sem cruzar outro carro. Ultrapassar e ser ultrapassado? Esquece, isso acontece umas 3 vezes por dia. Bem diferente da Ruta 3.

A meta hoje é chegar em El Bolsón. A uns 40 km da cidade já começa a aparecer as primeiras montanhas com grandes árvores. Aos poucos elas vão enchendo a paisagem para finalmente darem forma a uma floresta. Que colírio para os olhos! Depois de quase 3.000 km vendo só deserto e comendo poeira, agora vejo árvores e pego chuva. Nem ligo.

Bolsón é uma linda cidade, com muito verde, um ótimo destino turístico que fica apenas alguns km ao sul de Bariloche, oferece muitas cabanas, pousadas e restaurantes. Hoje vou dormir num lugar digno (e barato!).

Boa noite,
PC

domingo, 21 de março de 2010

21/03/10 - Dom: 571 km (347 km de rípio) - El Chaltén > Perito Moreno

Ainda bem que estava fechado

Cai a noite no deserto

Cuidado_são paulinos na pista

Deserto sem fim

Eco no ripio

Lago Cardiel

Ruta 40

Ruta 40

Subida interminável

Minha despedida do Fitz Roy não é grandes coisas. Esperava tirar algumas fotos da estrada mas nenhum sinal do gigante. Só nuvens, todas brancas, bem em cima da cordilheira. Para o leste o céu está azul e o sol brilha forte. Volto a ligar o ar condicionado após muitos dias.

De Chaltén a Três Lagos tudo tranquilo: 130 km de asfalto bom e vento lateral aceitável.
De Três Lagos a Casa Riera são 181 km de um rípio chato mas até que vai. O trilho que se forma no rípio é bem profundo e mais uma vez estar num carro alto faz a diferença.
A partir de Riera são mais 56 km de um trecho asfaltado da Ruta 40. Neste pedaço não consegui passar dos 100 km/h: uma subida leve mas interminável por mais de 30 km seguidos (sem um trecho plano sequer) e vento contra muito, muito forte.
Mais 101 km de um rípio muito bom (o que é raro) e estou em Bajo Caracoles.
Daqui a Perito Moreno são 128 km de asfalto, certo? Errado: o mapa que eu comprei em Ushuaia mostra uma coisa mas na verdade a única parte asfaltada são os últimos 40 km. E este trecho está péssimo. Mas o pior não é pegar um rípio ruim, isso eu já tinha pego, o pior é esperar por um asfalto lisinho e encontrar uma ruta horrível, cheia de pedras! Alguns longos trechos não dava para acelerar mais do que 30 km/h. Resultado, chego em Perito Moreno no escuro. Los Antiguos deve ser lindo mas vai ficar pra outra. Passo a noite num daqueles hotéis que não vale a pena guardar o nome.

Amanhã tem mais.
Abs,
PC

sábado, 20 de março de 2010

20/03/10 - Sáb: 71 km (64 km de rípio) - El Chaltén

Ruta alagada

El Chaltén

Fitz Roy atrás das nuvens

Fitz Roy atrás das nuvens

Fitz Roy atrás das nuvens

Glaciar Huemul

Hostería El Pilar

Lago del Desierto

PC_Lago del Desierto

Ponte de ferro

Vale de Las Vueltas

Rio de las Vueltas_Inicio

Mais um dia intenso. Pela manhã vou até a Estância El Pilar para conhecer o lugar. De lá começa uma trilha que passa na frente do Fitz Roy. Neste ponto (2 horas depois) tenho a opção de subir a morena frontal do glaciar que leva o mesmo nome, e chegar ao mirante do gigante Fitz Roy. Mas hoje ele está escondido atrás de umas nuvens bem cinzas, nada convidativo para subir a morena. Passo reto e vou até o mirante do Rio de Las Vueltas, e de lá para a cidade. Total caminhado: 17,5 km em 5 horas e 40 minutos contando as paradas para lanche e descanso.

Volto para a cidade e faço mais alguns contatos. Tomo um chocolate quente molhando as galetitas no leite e comendo de colher. Nham, nham, nham.

De tarde pego o carro e vou até a Laguna del Desierto. Passando a cidade de Chaltén uma ruta de rípio continua por mais 32 km até chegar nesta enorme laguna verde e comprida. Aqui acaba a estrada, mas você pode pegar um barco até a outra margem do lago e, após um par de horas caminhando, entrar para o Chile. Alguns metros antes do fim da ruta está a trilha que leva ao Glaciar Huemul, um exemplo perfeito de um glaciar que está morrendo. Uma boa subida de 250 metros me leva ao mirante deste moribundo. Mesmo morrendo é uma visita que vale a pena, o lugar todo não é muito grande (comparado com outros glaciares) e a sensação é de intimidade. O glaciar cobre somente um pequeno pedaço de rocha e um pouco mais abaixo há uma linda lagoa verde esmeralda com nada menos do que 100 metros de profundidade. Neste cenário posso observar claramente as impressões deixadas por este que um dia foi bem maior do que é hoje: marcas de erosão na rocha principal e muitas pedras, de todos os tamanhos, que foram empurradas vale abaixo por este glaciar há milhões de anos.

Volto para Chaltén e começo minha arrumação final nas coisas. Daqui pra frente serão 8 dias de estrada direto até o Brasil.

Vou nessa.
Beijos e abraços, PC